Page 28 - Healthcare Management - Edição 53
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que temos que evoluir para dar mais 7Wilson Pollara, em seu livro “A Saúde Tem
eficiência ao SUS? Cura”, lançado no ano passado, defende uma
O subfinanciamento é uma das barreiras para reformulação no setor e pontua que o que
melhorar o atendimento, mas não podemos deixar não falta é dinheiro. O Sr. concorda com essa visão?
de falar da ineficiência do gasto público. Precisamos Temos que discutir a qualidade dos gastos no setor?
ser mais eficientes, fechar os ralos da corrupção e Sem dúvida temos que discutir a qualidade dos
combater o mau uso do dinheiro público. Uma solução gastos. Há desperdícios no uso de recursos,
é organizar a assistência em rede, que deve ser gerida por conta do modelo assistencial equivocado e
com meritocracia e utilização plena, almejando um também por outros motivos, como a má formação
custo menor. Precisamos de um sistema organizado dos profissionais de saúde e a falta de integração
e descentralizado, com enfoque preventivo, para entre os equipamentos de saúde. Hoje, um cidadão
evitar duplicidade de atendimento e desperdício de percorre várias vezes a rede, e não existe um
recursos. Paradigmas têm de ser rompidos, sejam eles prontuário único e eletrônico que evite a repetição
ideológicos ou corporativos. Precisamos fomentar de exames e consultas, por exemplo. Isso acontece
uma maior integração entre o público e o privado, no sistema público e também no privado.
utilizando a melhor expertise de ambos, seja em
tecnologias ou em novos modelos de gestão. 8Como o Sr. avalia a relação entre as
operadoras de saúde com os prestadores
5Por onde podemos começar a acelerar esta de serviço?
mudança rumo à sustentabilidade do setor? A relação com as operadoras ainda se dá pela relação
O modelo assistencial do SUS é ideal no papel. de desconfiança. E esse custo é alto. Ainda há um
Mas na prática não funciona, porque a demanda número muito alto de glosas e dificuldades com os
é muito grande e porque não há uma gestão reajustes dos valores pagos pelos serviços prestados.
eficiente. Na maioria das vezes, quem está na fila da A pressão das operadoras de saúde é grande,
emergência não deveria estar. Essa pessoa poderia especialmente porque tivemos um desaquecimento
ter o seu problema resolvido num equipamento mais do mercado de planos de saúde nos últimos anos.
simples. Há também o agravamento dos problemas, Então, todos perdemos. Porque à medida em que os
por conta do tempo de espera. Como um câncer não empregos caem, o número de segurados cai junto e
diagnosticado no início, por exemplo. Na iniciativa todos perdem: planos de saúde, serviços de saúde
privada, o modelo assistencial não é ideal nem no e médicos. Outro problema que impacta muito os
papel, porque não há hierarquização. O acesso ao custos e essa relação comercial é o aumento no
médico especialista é livre e às emergências também. número de idosos entre a população. Porque os
Não existe um fluxo lógico de atendimento, nem a custos de saúde no final da vida são mais elevados
disseminação da cultura da prevenção. e as carteiras dos planos de saúde possuem pessoas
com cada vez mais idade. É preciso gerir bem essa
6Para isso, temos que mudar o modelo questão e otimizar custos, sem deixar de lado a
vigente, certo? assistência. Obviamente que a saída não pode por
Sim, e esta mudança é urgente, bem como a meio da imposição de barreiras para que idosos
intersecção dos serviços de saúde. A iniciativa privada ingressem em planos de saúde.
tem muito a contribuir no que diz respeito à gestão e
à eficiência. Por outro lado, o Estado não gere bem os “Precisamos fomentar uma maior integração
recursos que tem. Acredito que um grande passo é entre o público e o privado, utilizando a melhor
estabelecer um novo pacto, entre a iniciativa privada expertise de ambos, seja em tecnologias ou em
e o poder público, sem ideologias, num sistema novos modelos de gestão.”
transparente de contratação e de gestão. Já existem
modelos de sucesso neste sentido, mas é preciso
ampliá-los.
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eficiência ao SUS? Cura”, lançado no ano passado, defende uma
O subfinanciamento é uma das barreiras para reformulação no setor e pontua que o que
melhorar o atendimento, mas não podemos deixar não falta é dinheiro. O Sr. concorda com essa visão?
de falar da ineficiência do gasto público. Precisamos Temos que discutir a qualidade dos gastos no setor?
ser mais eficientes, fechar os ralos da corrupção e Sem dúvida temos que discutir a qualidade dos
combater o mau uso do dinheiro público. Uma solução gastos. Há desperdícios no uso de recursos,
é organizar a assistência em rede, que deve ser gerida por conta do modelo assistencial equivocado e
com meritocracia e utilização plena, almejando um também por outros motivos, como a má formação
custo menor. Precisamos de um sistema organizado dos profissionais de saúde e a falta de integração
e descentralizado, com enfoque preventivo, para entre os equipamentos de saúde. Hoje, um cidadão
evitar duplicidade de atendimento e desperdício de percorre várias vezes a rede, e não existe um
recursos. Paradigmas têm de ser rompidos, sejam eles prontuário único e eletrônico que evite a repetição
ideológicos ou corporativos. Precisamos fomentar de exames e consultas, por exemplo. Isso acontece
uma maior integração entre o público e o privado, no sistema público e também no privado.
utilizando a melhor expertise de ambos, seja em
tecnologias ou em novos modelos de gestão. 8Como o Sr. avalia a relação entre as
operadoras de saúde com os prestadores
5Por onde podemos começar a acelerar esta de serviço?
mudança rumo à sustentabilidade do setor? A relação com as operadoras ainda se dá pela relação
O modelo assistencial do SUS é ideal no papel. de desconfiança. E esse custo é alto. Ainda há um
Mas na prática não funciona, porque a demanda número muito alto de glosas e dificuldades com os
é muito grande e porque não há uma gestão reajustes dos valores pagos pelos serviços prestados.
eficiente. Na maioria das vezes, quem está na fila da A pressão das operadoras de saúde é grande,
emergência não deveria estar. Essa pessoa poderia especialmente porque tivemos um desaquecimento
ter o seu problema resolvido num equipamento mais do mercado de planos de saúde nos últimos anos.
simples. Há também o agravamento dos problemas, Então, todos perdemos. Porque à medida em que os
por conta do tempo de espera. Como um câncer não empregos caem, o número de segurados cai junto e
diagnosticado no início, por exemplo. Na iniciativa todos perdem: planos de saúde, serviços de saúde
privada, o modelo assistencial não é ideal nem no e médicos. Outro problema que impacta muito os
papel, porque não há hierarquização. O acesso ao custos e essa relação comercial é o aumento no
médico especialista é livre e às emergências também. número de idosos entre a população. Porque os
Não existe um fluxo lógico de atendimento, nem a custos de saúde no final da vida são mais elevados
disseminação da cultura da prevenção. e as carteiras dos planos de saúde possuem pessoas
com cada vez mais idade. É preciso gerir bem essa
6Para isso, temos que mudar o modelo questão e otimizar custos, sem deixar de lado a
vigente, certo? assistência. Obviamente que a saída não pode por
Sim, e esta mudança é urgente, bem como a meio da imposição de barreiras para que idosos
intersecção dos serviços de saúde. A iniciativa privada ingressem em planos de saúde.
tem muito a contribuir no que diz respeito à gestão e
à eficiência. Por outro lado, o Estado não gere bem os “Precisamos fomentar uma maior integração
recursos que tem. Acredito que um grande passo é entre o público e o privado, utilizando a melhor
estabelecer um novo pacto, entre a iniciativa privada expertise de ambos, seja em tecnologias ou em
e o poder público, sem ideologias, num sistema novos modelos de gestão.”
transparente de contratação e de gestão. Já existem
modelos de sucesso neste sentido, mas é preciso
ampliá-los.
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